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Esquizofrenia: Entendendo o Transtorno e o Tratamento Psicoterapêutico

A esquizofrenia é um transtorno mental sério, caracterizado por uma ruptura significativa nos processos de pensamento, percepção da realidade, linguagem e comportamento. Trata-se de uma condição que impacta profundamente a vida de quem a vivencia, bem como de seus familiares.

Compreendendo o Transtorno

De acordo com o DSM-5-TR (2023), a esquizofrenia é composta por sintomas como:

  • Delírios: Crenças fixas, não baseadas na realidade (como perseguição ou grandiosidade).
  • Alucinações: Percepções sem objeto real, geralmente auditivas (ouvir vozes).
  • Pensamento desorganizado: Discurso incoerente ou desconexo.
  • Comportamento motor gravemente desorganizado ou catatônico.
  • Sintomas negativos: Embotamento afetivo, isolamento social, redução da fala (alogia) e da motivação (avolia).

O curso da esquizofrenia costuma ser crônico, com períodos de exacerbação e remissão dos sintomas.

O Tratamento: Muito Além da Medicação

O tratamento envolve intervenção medicamentosa, psicoterapia, suporte psicossocial, acompanhamento familiar e reabilitação psicossocial. A medicação, geralmente composta por antipsicóticos, é fundamental para controlar os sintomas produtivos, como delírios e alucinações. No entanto, a psicoterapia desempenha um papel essencial no manejo dos aspectos subjetivos, emocionais, cognitivos e sociais, promovendo maior autonomia e qualidade de vida.

Abordagens Psicoterapêuticas na Esquizofrenia

Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)

A TCC é uma das abordagens mais bem pesquisadas no contexto da esquizofrenia. Atua no manejo dos sintomas psicóticos, auxiliando o paciente a:

  • Desenvolver estratégias de enfrentamento para delírios e alucinações.
  • Identificar distorções cognitivas e pensamentos disfuncionais.
  • Reduzir o sofrimento associado às crenças delirantes.
  • Melhorar habilidades sociais e o funcionamento global.

Estudos indicam que a TCC, quando associada à medicação, promove melhora na qualidade de vida, redução de recaídas e maior adesão ao tratamento (Morrison et al., 2014).

Psicanálise

Historicamente controversa no tratamento da esquizofrenia, a psicanálise contemporânea, especialmente na vertente francesa (Nasio, 1997), busca compreender a estrutura subjetiva do paciente psicótico. O foco está em:

  • Dar sentido às vivências internas, muitas vezes fragmentadas e angustiantes.
  • Trabalhar as falhas nos processos de simbolização e na constituição do eu.
  • Oferecer um espaço de acolhimento, sem invasões interpretativas precipitadas.
  • Respeitar o tempo psíquico e as defesas do paciente, valorizando, inclusive, a função estabilizadora do delírio.

É uma abordagem indicada para fases de maior estabilidade, visando uma reconstrução da subjetividade.

Abordagem Existencial e Fenomenológica

Focada na experiência subjetiva da pessoa, busca compreender como ela vive o mundo, sua realidade e seu sofrimento. Na esquizofrenia, o sujeito frequentemente vivencia uma ruptura no contato com a realidade compartilhada, experienciando o mundo de forma singular e, por vezes, angustiante.
O terapeuta, nessa abordagem, não busca corrigir a percepção, mas acompanhar fenomenologicamente o sentido que o paciente atribui à sua experiência, sem julgamentos, adotando uma postura de presença, escuta e aceitação (Laing, 1960; Boss, 1979).

Gestalt Terapia

Na Gestalt, o foco está no contato, na consciência e na autorregulação. Trabalha-se para:

  • Restabelecer o contato interrompido com o mundo e consigo mesmo.
  • Promover a integração de partes dissociadas da experiência.
  • Auxiliar o paciente a perceber suas emoções, sensações corporais e pensamentos no aqui e agora.
  • Oferecer uma relação terapêutica segura, em que a espontaneidade e o acolhimento facilitam o processo de reorganização psíquica.

Abordagens Integrativas e Interdisciplinares

O tratamento da esquizofrenia demanda, cada vez mais, uma atuação interdisciplinar, envolvendo não apenas psicólogos e psiquiatras, mas também terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, fonoaudiólogos e familiares. Estratégias como reabilitação cognitiva, treinamento de habilidades sociais e suporte psicossocial são fundamentais para promover a inclusão social e a autonomia do paciente.

Conclusão

A esquizofrenia é um transtorno complexo, mas não uma sentença de incapacidade. As abordagens psicoterapêuticas, quando conduzidas de forma ética, sensível e embasada cientificamente, oferecem possibilidades concretas de melhora na qualidade de vida, na autonomia e no bem-estar das pessoas que convivem com esse diagnóstico.

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Referências Bibliográficas

  • American Psychiatric Association. DSM-5-TR: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – Texto Revisado. Porto Alegre: Artmed, 2023.
  • Kandel, E. R., Schwartz, J. H., Jessell, T. M., Siegelbaum, S. A., & Hudspeth, A. J. Princípios de Neurociência. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.
  • Morrison, A. P., et al. Cognitive therapy for people with a schizophrenia spectrum diagnosis not taking antipsychotic medication: An exploratory trial. Psychological Medicine, 44(5), 2014.
  • Freud, S. Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranoia (Dementia paranoides). 1911.
  • Nasio, J. D. O prazer de ler Freud: A psicose. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.
  • Laing, R. D. O Eu Dividido. São Paulo: Zahar, 1960.
  • Boss, M. Existential Foundations of Medicine and Psychology. New York: Aronson, 1979.
  • Perls, F. S. Gestalt Terapia Explicada. São Paulo: Summus, 1977.

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