A literatura científica há muito tempo reconhece que transtornos de aprendizagem podem afetar diversas áreas do funcionamento cerebral, abrangendo habilidades verbais, matemáticas e motoras. Contudo, apesar do conhecimento acumulado, práticas educacionais e regulamentações frequentemente priorizam exclusivamente as deficiências nas áreas acadêmicas tradicionais.
Em consequência, crianças identificadas como "normais", mas que apresentam dificuldades significativas em escrita, leitura ou matemática, tendem a ser diagnosticadas precocemente, enquanto crianças superdotadas com dificuldades de aprendizagem podem passar despercebidas no sistema escolar (Brody e Mills, 1997).
Brody e Mills (1997) identificaram três grupos de crianças superdotadas com dificuldades de aprendizagem que frequentemente permanecem sem diagnóstico:
- O primeiro grupo inclui aquelas identificadas como superdotadas, mas que conseguem compensar suas dificuldades de aprendizagem até certo ponto. Essas crianças tendem a enfrentar maiores desafios conforme as demandas acadêmicas se intensificam, mas suas dificuldades são erroneamente atribuídas a fatores como falta de motivação ou baixa autoestima.
- O segundo grupo de crianças superdotadas inclui aquelas cujas dificuldades de aprendizagem são suficientemente graves para serem notadas, mas cujas altas habilidades permanecem negligenciadas.
- O terceiro grupo é composto por crianças cujas habilidades superdotadas e dificuldades de aprendizagem se mascaram mutuamente, fazendo com que elas sejam vistas como “normais” e não recebam nenhum tipo de apoio especial. Embora seu desempenho acadêmico seja bom, essas crianças atuam abaixo de seu potencial, e suas necessidades específicas permanecem ignoradas até os anos iniciais do ensino fundamental, o que atrasa a implementação de intervenções que poderiam melhorar significativamente seu desenvolvimento (Kay, 2000 apud Webb et al, 2016).
As dificuldades em identificar crianças superdotadas com transtornos de linguagem, como o Transtorno Específico de Aprendizagem de leitura (dislexia), são igualmente problemáticas. Devido ao foco nos aspectos linguísticos no sistema educacional, a dislexia pode obscurecer o talento acadêmico dessas crianças, limitando suas oportunidades de desenvolvimento. Transtornos que afetam qualquer aspecto da linguagem podem comprometer o desempenho escolar e criar confusão tanto para os educadores quanto para os pais, além de gerar frustração para a criança, que pode ter suas ideias expressas de forma clara verbalmente, mas encontra dificuldades significativas ao tentar registrá-las por escrito.
Conforme o nível intelectual geral de uma criança aumenta, a amplitude de suas habilidades tende a se expandir, e é comum encontrar crianças superdotadas que apresentam habilidades superiores apenas em domínios específicos, como linguagem ou matemática, ao invés de uma superdotação global (Winner, 1997 apud Webb et al, 2016). Em muitos casos, essas crianças podem atender aos critérios formais para inclusão em programas para dificuldades de aprendizagem, enquanto outras podem ter dificuldades apenas em áreas específicas. Para ambos os grupos, adaptações educacionais personalizadas são necessárias para proporcionar um ambiente de aprendizado que valorize suas habilidades.
Os Transtornos de Aprendizagem representam obstáculos importantes para crianças superdotadas e, portanto, requerem intervenções precoces. A identificação precoce e precisa das crianças superdotadas com dificuldades de aprendizagem é essencial para evitar o desenvolvimento de uma "pobreza intelectual", que poderia ter sido evitada com suporte adequado. Além disso, estudos sugerem que crianças duplamente excepcionais que não recebem diagnóstico e intervenção têm maior risco de desenvolver problemas psicológicos e de abuso de substâncias. Portanto, estratégias de avaliação específicas para crianças duplamente excepcionais são fundamentais para evitar a frustração e o declínio da autoestima, permitindo que essas crianças alcancem seu verdadeiro potencial acadêmico e pessoal. Dessa forma, realizar uma avaliação neuropsicológica com um profissional que tenha conhecimento sobre o assunto é essencial para identificar com precisão os desafios e talentos de crianças duplamente excepcionais.
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Referência Bibliográfica
Brody, L. E., & Mills, C. J. (1997). Gifted children with learning disabilities: A review of the literature. Journal of Learning Disabilities, 30(3), 282- 286
WEBB, James T.; AMEND, Edward R.; BELJAN, Paul; GOERSS, Jean; OLECHNAK, F. Richard; WEBB, Nadia E. Diagnósticos incorretos e diagnósticos duplos de crianças e adultos superdotados: TDAH, transtorno bipolar, TOC, síndrome de Asperger, depressão e outros transtornos . Great Potential Press, 2016.